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Chitãozinho & Xororó durante gravação do DVD "Ch&X 40 anos - Entre Amigos" no Via Funchal, em São Paulo (28/09/2010)
O recente desentendimento entre Zezé di Camargo e Luciano, que incluiu
um anúncio rapidamente retirado e até uma internação de emergência do
segunda voz, reflete um problema recorrente nas duplas sertanejas: como
manter uma longa parceria sem que, em algum momento, o relacionamento se
torne insustentável?
Para Chitãozinho, que canta há 40 anos ao lado do irmão Xororó, a
missão é possível, apesar de nada fácil. "O grande segredo é saber
respeitar o espaço do outro e colocar seu trabalho acima de questões
pessoais. A dupla tem que ser profissional, a vida particular do seu
parceiro não interessa pra você. Eu e o Xororó aprendemos muito cedo que
nós precisávamos do nosso espaço. Nós não saímos juntos o tempo todo,
não viajamos juntos, não vivemos colados um no outro, e isso foi
fundamental para a gente chegar aos 40 anos de carreira", defende.
De acordo com o segunda voz, as discussões com Xororó, que tem fama de
perfeccionista, sempre existiram, mas nunca ao ponto de se pensar em
separação. "Nós temos claro na cabeça que eu não mando 50,1%. Eu mando
50%. E o Xororó, os outros 50%. Ninguém fala mais alto, ninguém tem mais
poder, ninguém manda mais do que ninguém. Isso foi fundamental para que
essa história de separação não fizesse parte da nossa carreira."
Principal produtor da música sertaneja nos anos 1990, César Augusto
trabalhou com todas as duplas de ponta daquela década, e se destacou
após revelar Leandro e Leonardo. Há quase vinte anos, é responsável
pelos discos de Zezé di Camargo e Luciano, e confessa que é muito mais
fácil lidar com duplas formadas por irmãos. "Quando seu parceiro não tem
o seu sangue, tudo fica mais difícil, existe uma competição interna
que, em algum momento, pode estourar. Ser sombra do irmão é uma coisa,
mas se sentir inferior a um parceiro que não é do seu sangue é outra
história. Uma hora ou outra, alguém vai se sentir em segundo plano e vai
dar trabalho."

O
primeira voz é o que recebe prêmio, é o que fala na TV, é o que sai na
revista, é a voz que o povo canta. É de costume dos sertanejos chamarem
uma dupla só pelo primeiro nome, tipo 'vou no show do Zezé'.
César Augusto, produtor de Zezé di Camargo e Luciano
Para César Augusto, o destaque maior do primeira voz é um dos grandes
problemas a ser administrado. "O primeira voz é o que recebe prêmio, é o
que fala na TV, é o que sai na revista, é a voz que o povo canta. É de
costume dos sertanejos chamarem uma dupla só pelo primeiro nome, tipo
'vou no show do Zezé'. Naturalmente, o segunda voz recebe menos atenção,
e isso é muito complicado de ser administrado. Se ele não for preparado
para enfrentar isso - e a maioria não é -, a dupla começa a ter
problema. Se o cara não é seu irmão, como você vai conseguir aceitar que
todos os elogios sejam feitos só pra ele, sendo que você batalhou
junto?"
Em 1990, João Mineiro e Marciano, que não eram irmãos, disputavam com
Chitãozinho e Xororó o posto de dupla número um do país. Três anos
depois, sem dar maiores explicações, os cantores brigaram e foram
responsáveis pela separação mais marcante que a música sertaneja viu,
com 20 anos de carreira. Quando perguntado sobre os motivos da
separação, Marciano prefere não dizer. Há disputas judiciais entre os
dois até hoje, que o cantor também não comenta.
Foto 5 de 18 - Zezé beija Luciano durante entrevista para o "Programa do Jô". Programa vai ao ar nesta terça-feira (01/11/2011)
Mais Manuela Scarpa/Photo Rio News
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Os irmãos Edson e Hudson retornaram aos palcos em outubro após dois anos separados
Edson com Hudson, Rick sem Renner
Nos últimos dois meses, Edson e Hudson voltaram a ser destaque com o
anúncio do retorno da dupla. Irmãos, os cantores ficaram dois anos
separados após brigas que tinham como pano de fundo, segundo eles
mesmos, o alcoolismo e a depressão.
Apesar da separação, ambos admitiram que sabiam que um dia a parceria
seria refeita. Para Edson, que se diz o principal culpado, o fim
temporário da dupla foi estimulado por falta de respeito mútua.
"Eu canto desde criança com o Hudson, então brigar é algo normal,
apesar de que desde que voltamos, nós não brigamos, estamos tentando
respeitar ao máximo o outro, pois sabemos que erramos muito nesse lance
do respeito. Tudo gira sempre em torno do respeito, é ele o responsável
por você se desculpar, se arrepender. Eu perdi completamente o respeito
pelo meu irmão, e da parte dele foi a mesma coisa. Se você ouve pessoas
de fora e não ouve o seu próprio irmão, que é a sua dupla, não tem
solução".
O cantor admite que cantar ao lado de alguém com o mesmo sangue faz
diferença. "Seu irmão sabe dos seus problemas, aguenta seus defeitos,
suas chatices. É muito menos complicado do que você se juntar com um
cara desconhecido e começar a cantar".
Em dezembro do ano passado, após quase 25 anos juntos, o cantor Rick
anunciou que estava se separando de Renner. A dupla se conheceu nos anos
1980, quando Rick procurava um segunda voz para cantar ao seu lado.
Desde meados dos anos 2000 a separação da dupla era cogitada.

Nada
é mais importante que o respeito. Se ele acabar, não tem grana ou fama
que segure a dupla. Se o cara para de te ouvir, começa a se achar mais
importante que todo mundo e o trabalho passa para o segundo plano, não
tem carreira que aguente
Rick, da extinta dupla Rick e Renner
Ao se separar de Renner, Rick alegou que seu ex-parceiro estava
faltando a compromissos. A gota d'água foi quando Renner faltou a um
programa de TV no qual a dupla faria a divulgação do novo trabalho.
"Quando você se casa, faz uma sociedade ou qualquer tipo de parceria,
sabe que precisa abrir mão de algumas coisas para chegar aonde você
quer. Com dupla também é um casamento, e não é fácil manter o foco dos
dois durante tanto tempo. As cabeças não vão pensar sempre na mesma
direção", conta Rick, que descarta um retorno com Renner.
"Eu sempre assumi a postura de líder da dupla por uma característica
pessoal, o Renner nunca gostou da carga de ter de administrar a
carreira, então eu sempre tomei a frente, e foi assim que deu certo. O
problema foi que com o passar do tempo as idéias mudaram, as
prioridades, as pretensões."
Assim como Edson, Rick ainda bate na tecla do respeito. "Nada é mais
importante que o respeito. Se ele acabar, não tem grana ou fama que
segure a dupla. Se o cara para de te ouvir, começa a se achar mais
importante que todo mundo e o trabalho passa para o segundo plano, não
tem carreira que aguente."
Para César Augusto, o "amor de irmão" é o principal responsável pela
vida longa da maioria das duplas. "Se você pegar na história, quase
todas as duplas de irmãos que se separaram, voltaram. Taí Edson e Hudson
que não me deixam mentir. O amor de irmão sempre vai falar mais alto."